Cesário Verde:
Características de Cesário Verde:
Parnasianismo => Escola de rigor sintáctico. O poeta refere-se a si próprio, espectador, imagens e sensações, e a “objectividade” plástica alterna, em vários passos, com a fuga imaginativa. O poeta não diz o que sente, mostra os objectos e desperta ideias (objectividade e impessoalidade)
Usa séries de adjectivos que procuram cingir os contornos e o poder sugestivo das coisas.
Cesário Verde utiliza uma poesia pictórica, pinta quadros por letras.
Impressionista => Valoriza a impressão pura, a percepção imediata, não intelectualizada, com o seu carácter fragmentário e fugaz. Tira o maior partido da cor e da luminosidade, em quadros de ar livre, com objectos de contornos esfumados. É realista à sua maneira, porquanto, na sua fidelidade à sensação, interessando-se não só pelo objecto em si mas pelo efeito que provoca no pintor.
Ao jogo do real e do irreal: os estímulos de circunstância fazem invocar o ausente ou vem a imaginação transfigurar as coisas vistas. Transformar por breves momentos, porque logo depois o poeta tem de voltar à realidade comum.
Cesário Verde deixa-se conquistar pelas seduções da urbe. Traça “quadros revoltados”, queixa-se do tédio. Torna-se o poeta por excelência de Lisboa, cuja figura multifacetada descobrimos, inteira, em poemas. Desde a paisagem física à paisagem humana. Mas quando percorre/deambula a cidade o poeta deixa entrever o desejo de espaços mais amplos, dum ar mais puro, duma vida mais sã. A perfeita integração na vida campestre, sem bucolismos, mas activa, saudável, natural. O Realismo é uma influencia artística que Cesário Verde utiliza i.e., apresenta situações concretas do real objectivo. Naturalismo - funcionalidade - pôr em pratica - do real objectivo.
Contraste Cidade/Campo:
É um dos temas fundamentais da poesia de Cesário Verde e revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos pseudovalores urbanos e industrias, a que, no entanto, adere. Consegue mostrar a tradição de um país profundamente rural, que tem dificuldades em evitar os benefícios e os malefícios da industrialização e do avanço da civilização urbana. Cidade/Campo ó Morte/Vida
Fernando Pessoa:
Quando se fala em Pessoa ortónimo é preciso distinguir o Pessoa ortónimo que diverge entre o “Lirismo” e “O poeta como fingidor”, e o Pessoa ortónimo- mensagem, que escreveu a Mensagem.
Em Fernando Pessoa, coexistem 2 vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas que vão desde o simbolismo ao paulismo e interseccionismo, no Pessoa ortónimo.
Fernando Pessoa ortónimo:
O Pessoa ortónimo revela um drama de personalidade que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo, ou lhe provoca fragmentações. Daí a capacidade de despersonalização (a de ser múltiplo sem deixar de ser um), que leva o ortónimo a tentar atingir a finalidade da Arte, ou, como afirma, simplesmente aumentar a autoconsciência humana.
Pessoa procura através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. Verifica-se uma intersecção de realidades físicas e psíquicas, de realidades interiores e exteriores, uma intersecção dos sonhos e das paisagens reais, do espiritual e do material. Uma intersecção de tempos e de espaços, uma intersecção da horizontalidade com a verticalidade. O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade são tentativas para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. Daí a intelectualização do sentimento para exprimir a arte, que fundamenta o poeta fingidor.
Graças á distanciação que faz do real, o que pode ser entendido como acto de fingimento ou de mentira. Artisticamente, considera que a mentira “é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento (que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir), assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
A pessoa ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar.
“Isto significa que o acto poético apenas pode comunicar uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua no sujeito, que, por palavras e imagens, tenta uma representação; e os leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor. Existe 3 níveis de compreensão: a dor real (“que deveras sente”), a dor fingida e a “dor lida”.”
O sujeito poético revela-se duplo, fragmentado, na busca de sensações que lhe permitam antever a felicidade ansiada, mas inacessível. A diversidade de planos revela a fragmentação do sujeito. O tempo é para ele um factor de desagregação na medida em tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo.
Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Oblíqua.
O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
O ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde tempos de Orpheu e do Paulismo.
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
As temáticas:
- o sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade
- a angústia existencial e a nostalgia (de um bem perdido)
- a máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar
- a intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte
- o sebastianismo
- tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.
Fernando Pessoa ortónimo – Mensagem:
Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império civilizacional. O “intenso sofrimento patriótico” leva-o a antever um império que se encontra para além do material.
A Mensagem é mítica e simbólica. Surge tripartida, a traduzir a evolução desde a sua origem, passado pela fase adulta até à morte, a que se seguirá a ressurreição.
A 1ª parte - o “Brasão”- (construtores do Império) corresponde ao nascimento, com referências aos mitos e figuras históricas, até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos.
Na 2ª parte – no “Mar Português” – (o sonho marítimo e a obra das descobertas) surge a realização e vida. Refere personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecidos e os elementos naturais. Mas, porque “tudo vale a pena”, a missão foi cumprida.
Na 3ª parte – “Encoberto”- (a imagem do Império moribundo, a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada. A esperança do Quinto Império.) aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois “falta cumprir-se Portugal”. É preciso acontecer a regeneração, que será anunciada por símbolos e avisos.
Estrutura tripartida da Mensagem:
Os 44 poemas que formam a Mensagem encontram-se agrupados em três partes, ou seja, as etapas da evolução do Império Português – nascimento, realização e morte/renascimento.
Mensagem recorre ao ocultismo para criar o herói – o Encoberto – que se apresenta como D. Sebastião. Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do privilégio esotérico (= oculto/secreto) se encontra legitimado para realizar o sonho do Quinto Império.
O ocultismo:
- Três espaços: o histórico, o mítico e o místico
- “A ordem espiritual no homem, no universo e em Deus”
- Poder, inteligência e amor na figura de D. Sebastião.
A conquista do mar não foi suficiente ( o império material desfez-se, ou seja, a missão ainda não foi cumprida): falta concretizar o novo sonho – um império espiritual..
A construção do Futuro (a revolução cultural) tem que ter em conta o Presente e deve aproveitar as lições do Passado, fundamentando-se nas nossas ancestrais tradições.
A atitude heróica é importante para a aproximação a Deus, mas o herói não pode esquecer que o poder baseado na justiça, na lealdade, na coragem e no respeito é mais valioso do que o poder exercido violentamente pelo conquistador – a opção clara pelo poder espiritual, pelo poder moral, pelos valores..
Fernando Pessoa – Heterónimos:
A Heteronomia: “Sinto-me duplo”. Necessidade de descobrir a sua consciência e personalidade. O progresso do poeta dentro de si próprio realiza-se pela vitória sobre a sinceridade, pela conquista da capacidade de fingir. “Não uso o coração”, exprime-se por um acto de fingimento de pura elaboração estética, procurando apenas comunicar enquanto o leitor, se quiser sentir, que sinta. O poeta é um fingidor. Os heterónimos são os companheiros psíquicos.
Heterónimos:
- Ricardo Reis
- Alberto Caeiro
- Álvaro De Campos
- Pessoa Ortónimo
Alberto Caeiro:
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento.
Considera que “pensar é estar doente dos olhos”. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Além disso, Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo e a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo. Caeiro só se interessa por aquilo que capta pelas sensações. Nesta medida é um sensacionista. É mestre de Pessoa e dos outros heterónimos.
Procura captar apenas o que as sensações lhe oferecem na realidade imediata. Para si o tempo surge eterno, uno, feito de instantes de presente. Com a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos, recusa a metafísica, o misticismo e o sentimentalismo social e individual. Ao anular o pensamento metafísico a ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afecta Pessoa.
Álvaro de Campos, que como Caeiro recorre aos versos livres é o homem da cidade, que procura aplicar a lição sensacionista ao mundo da maquina. Mas ao não conseguir acompanhar a pressa mecanicista e a desordem das sensações, sente uma espécie de desumanização e frustração. Falta a Campos a tranquilidade olímpica de Caeiro.
Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão, recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Caeiro vê o mundo sem necessidade de explicação, e confessa que existir é um facto maravilhoso. Caeiro aceita a vida sem pensar. Reis talvez a aceite apesar de pensar. Reis chega a ser o contrário do Mestre, sobretudo ao procurar vivenciar poeticamente um sensacionismo de carácter reflexivo, com a emoção controlada pela razão.
Só lhe interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações. Recusa o pensamento metafísico – “pensar é não compreender”- insistindo naquilo a que chama “aprendizagem de desaprender”, ou seja, aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos, culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta. O pensamento gera infelicidade. Para Caeiro, ver é conhecer e compreender o mundo. A verdadeira vida deve reduzir-se ao “puro sentir”, ao “saber ver estar e pensar.” É o realismo sensorial.
Poeta as natureza. Vivem de acordo com ela, na sua simplicidade e paz. Ama a Natureza. Vê a Natureza na sua constante renovação e crê na “eterna novidade das cisas”. A “recordação é uma traição à Natureza”. Interessa-lhe o presente, o concreto, o imediato, uma vez que é aí que as coisas se apresentam como são.
Ricardo Reis:
Ricardo Reis é médico. É o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com alma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Este discípulo de Caeiros aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.
Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. Pessoa afirma que os próprios deuses “sobre quem pesa o fado” não têm a calma, a liberdade e a felicidade. Pessoa escreveu: “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental”. Poesia intelectual. Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também se encontra o mundo de angústias que afecta Pessoa.
Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “carpe diem” ou seja, aproveitai a vida em cada dia como caminho da felicidade
- buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia)
- não ceder ao impulso dos instintos (estoicismo)
- procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão
- seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o fado).
O Epicurismo, defendia o prazer como caminho para a felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja estável, sem desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia. “carpe diem”
O Estoicismo, considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e ás paixões, que são perturbações da razão. O ideal ético é a apatia que se defina como ausência de paixão e permite a liberdade, mesmo sendo escravo.
Paganismo
A precisão verbal e o recurso à mitologia associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou á tranquila resignação ao destino são marcas da classicismo erudito de Reis. Poeta clássico, da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
Álvaro de Campos:
Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra “no extremo oposto, inteiramente oposto a Ricardo Reis”.
Para Campos a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O Eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalizarão das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Álvaro de Campo é o mais moderno dos heterónimos, descreve-o como engenheiro naval e afirma que escreve em seu nome quando sente “um súbito impulso de escrever”. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
O sensacionismo de Campos começa com a premissa de que a única realidade é a sensação. Mas a nova tecnologia na fábrica e nas ruas da metrópole moderna provoca-lhe a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável.
Ao tentar a totalização de todas as possibilidades sensoriais e afectivas da humanidade, em todo o espaço, tempo ou circunstâncias, num mesmo processo psíquico individual, o sensacionismo faz o mesmo que o Unanimismo francês (movimento poético que em reacção contra o individualismo e as estéticas do descontínuo, procura criar laços entre os grupos humanos, interpretando a sua alma e a sua vida, acreditando na possibilidade de uma alma “unanime”, na solidariedade e na importância da colectividade para fazer face ás situações reais e ameaçadoras da vida moderna).
A obra de Álvaro de Campos passa por três fases:
- a decadentista – que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (Opiário); O Decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de fuga á monotonia.
- a futurista e sensacionista – nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da maquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da maquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”
- a intimista – que, perante a incapacidade da realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço..”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado.
Impressionista => Valoriza a impressão pura, a percepção imediata, não intelectualizada, com o seu carácter fragmentário e fugaz. Tira o maior partido da cor e da luminosidade, em quadros de ar livre, com objectos de contornos esfumados. É realista à sua maneira, porquanto, na sua fidelidade à sensação, interessando-se não só pelo objecto em si mas pelo efeito que provoca no pintor.
Ao jogo do real e do irreal: os estímulos de circunstância fazem invocar o ausente ou vem a imaginação transfigurar as coisas vistas. Transformar por breves momentos, porque logo depois o poeta tem de voltar à realidade comum.
Cesário Verde deixa-se conquistar pelas seduções da urbe. Traça “quadros revoltados”, queixa-se do tédio. Torna-se o poeta por excelência de Lisboa, cuja figura multifacetada descobrimos, inteira, em poemas. Desde a paisagem física à paisagem humana. Mas quando percorre/deambula a cidade o poeta deixa entrever o desejo de espaços mais amplos, dum ar mais puro, duma vida mais sã. A perfeita integração na vida campestre, sem bucolismos, mas activa, saudável, natural. O Realismo é uma influencia artística que Cesário Verde utiliza i.e., apresenta situações concretas do real objectivo. Naturalismo - funcionalidade - pôr em pratica - do real objectivo.
Contraste Cidade/Campo:
É um dos temas fundamentais da poesia de Cesário Verde e revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos pseudovalores urbanos e industrias, a que, no entanto, adere. Consegue mostrar a tradição de um país profundamente rural, que tem dificuldades em evitar os benefícios e os malefícios da industrialização e do avanço da civilização urbana. Cidade/Campo ó Morte/Vida
Fernando Pessoa:
Quando se fala em Pessoa ortónimo é preciso distinguir o Pessoa ortónimo que diverge entre o “Lirismo” e “O poeta como fingidor”, e o Pessoa ortónimo- mensagem, que escreveu a Mensagem.
Em Fernando Pessoa, coexistem 2 vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas que vão desde o simbolismo ao paulismo e interseccionismo, no Pessoa ortónimo.
Fernando Pessoa ortónimo:
O Pessoa ortónimo revela um drama de personalidade que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo, ou lhe provoca fragmentações. Daí a capacidade de despersonalização (a de ser múltiplo sem deixar de ser um), que leva o ortónimo a tentar atingir a finalidade da Arte, ou, como afirma, simplesmente aumentar a autoconsciência humana.
Pessoa procura através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. Verifica-se uma intersecção de realidades físicas e psíquicas, de realidades interiores e exteriores, uma intersecção dos sonhos e das paisagens reais, do espiritual e do material. Uma intersecção de tempos e de espaços, uma intersecção da horizontalidade com a verticalidade. O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade são tentativas para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. Daí a intelectualização do sentimento para exprimir a arte, que fundamenta o poeta fingidor.
Graças á distanciação que faz do real, o que pode ser entendido como acto de fingimento ou de mentira. Artisticamente, considera que a mentira “é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento (que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir), assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
A pessoa ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar.
“Isto significa que o acto poético apenas pode comunicar uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua no sujeito, que, por palavras e imagens, tenta uma representação; e os leitores tendem a considerar uma dor que não é sua, mas que apreendem de acordo com a sua experiência de dor. Existe 3 níveis de compreensão: a dor real (“que deveras sente”), a dor fingida e a “dor lida”.”
O sujeito poético revela-se duplo, fragmentado, na busca de sensações que lhe permitam antever a felicidade ansiada, mas inacessível. A diversidade de planos revela a fragmentação do sujeito. O tempo é para ele um factor de desagregação na medida em tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo.
Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Oblíqua.
O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
O ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde tempos de Orpheu e do Paulismo.
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
As temáticas:
- o sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade
- a angústia existencial e a nostalgia (de um bem perdido)
- a máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar
- a intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte
- o sebastianismo
- tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável.
Fernando Pessoa ortónimo – Mensagem:
Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império civilizacional. O “intenso sofrimento patriótico” leva-o a antever um império que se encontra para além do material.
A Mensagem é mítica e simbólica. Surge tripartida, a traduzir a evolução desde a sua origem, passado pela fase adulta até à morte, a que se seguirá a ressurreição.
A 1ª parte - o “Brasão”- (construtores do Império) corresponde ao nascimento, com referências aos mitos e figuras históricas, até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos.
Na 2ª parte – no “Mar Português” – (o sonho marítimo e a obra das descobertas) surge a realização e vida. Refere personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecidos e os elementos naturais. Mas, porque “tudo vale a pena”, a missão foi cumprida.
Na 3ª parte – “Encoberto”- (a imagem do Império moribundo, a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada. A esperança do Quinto Império.) aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois “falta cumprir-se Portugal”. É preciso acontecer a regeneração, que será anunciada por símbolos e avisos.
Estrutura tripartida da Mensagem:
Os 44 poemas que formam a Mensagem encontram-se agrupados em três partes, ou seja, as etapas da evolução do Império Português – nascimento, realização e morte/renascimento.
Mensagem recorre ao ocultismo para criar o herói – o Encoberto – que se apresenta como D. Sebastião. Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do privilégio esotérico (= oculto/secreto) se encontra legitimado para realizar o sonho do Quinto Império.
O ocultismo:
- Três espaços: o histórico, o mítico e o místico
- “A ordem espiritual no homem, no universo e em Deus”
- Poder, inteligência e amor na figura de D. Sebastião.
A conquista do mar não foi suficiente ( o império material desfez-se, ou seja, a missão ainda não foi cumprida): falta concretizar o novo sonho – um império espiritual..
A construção do Futuro (a revolução cultural) tem que ter em conta o Presente e deve aproveitar as lições do Passado, fundamentando-se nas nossas ancestrais tradições.
A atitude heróica é importante para a aproximação a Deus, mas o herói não pode esquecer que o poder baseado na justiça, na lealdade, na coragem e no respeito é mais valioso do que o poder exercido violentamente pelo conquistador – a opção clara pelo poder espiritual, pelo poder moral, pelos valores..
Fernando Pessoa – Heterónimos:
A Heteronomia: “Sinto-me duplo”. Necessidade de descobrir a sua consciência e personalidade. O progresso do poeta dentro de si próprio realiza-se pela vitória sobre a sinceridade, pela conquista da capacidade de fingir. “Não uso o coração”, exprime-se por um acto de fingimento de pura elaboração estética, procurando apenas comunicar enquanto o leitor, se quiser sentir, que sinta. O poeta é um fingidor. Os heterónimos são os companheiros psíquicos.
Heterónimos:
- Ricardo Reis
- Alberto Caeiro
- Álvaro De Campos
- Pessoa Ortónimo
Alberto Caeiro:
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento.
Considera que “pensar é estar doente dos olhos”. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Além disso, Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo e a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo. Caeiro só se interessa por aquilo que capta pelas sensações. Nesta medida é um sensacionista. É mestre de Pessoa e dos outros heterónimos.
Procura captar apenas o que as sensações lhe oferecem na realidade imediata. Para si o tempo surge eterno, uno, feito de instantes de presente. Com a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos, recusa a metafísica, o misticismo e o sentimentalismo social e individual. Ao anular o pensamento metafísico a ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afecta Pessoa.
Álvaro de Campos, que como Caeiro recorre aos versos livres é o homem da cidade, que procura aplicar a lição sensacionista ao mundo da maquina. Mas ao não conseguir acompanhar a pressa mecanicista e a desordem das sensações, sente uma espécie de desumanização e frustração. Falta a Campos a tranquilidade olímpica de Caeiro.
Ricardo Reis, que adquiriu a lição do paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão, recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Caeiro vê o mundo sem necessidade de explicação, e confessa que existir é um facto maravilhoso. Caeiro aceita a vida sem pensar. Reis talvez a aceite apesar de pensar. Reis chega a ser o contrário do Mestre, sobretudo ao procurar vivenciar poeticamente um sensacionismo de carácter reflexivo, com a emoção controlada pela razão.
Só lhe interessa vivenciar o mundo que capta pelas sensações. Recusa o pensamento metafísico – “pensar é não compreender”- insistindo naquilo a que chama “aprendizagem de desaprender”, ou seja, aprender a não pensar, para se libertar de todos os modelos ideológicos, culturais ou outros, e poder ver a realidade concreta. O pensamento gera infelicidade. Para Caeiro, ver é conhecer e compreender o mundo. A verdadeira vida deve reduzir-se ao “puro sentir”, ao “saber ver estar e pensar.” É o realismo sensorial.
Poeta as natureza. Vivem de acordo com ela, na sua simplicidade e paz. Ama a Natureza. Vê a Natureza na sua constante renovação e crê na “eterna novidade das cisas”. A “recordação é uma traição à Natureza”. Interessa-lhe o presente, o concreto, o imediato, uma vez que é aí que as coisas se apresentam como são.
Ricardo Reis:
Ricardo Reis é médico. É o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com alma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Este discípulo de Caeiros aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos.
Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia (a tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado. Pessoa afirma que os próprios deuses “sobre quem pesa o fado” não têm a calma, a liberdade e a felicidade. Pessoa escreveu: “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental”. Poesia intelectual. Em Ricardo Reis há a apatia face ao mistério da vida mas também se encontra o mundo de angústias que afecta Pessoa.
Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:
- “carpe diem” ou seja, aproveitai a vida em cada dia como caminho da felicidade
- buscar a felicidade com tranquilidade (ataraxia)
- não ceder ao impulso dos instintos (estoicismo)
- procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão
- seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o fado).
O Epicurismo, defendia o prazer como caminho para a felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja estável, sem desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia. “carpe diem”
O Estoicismo, considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e ás paixões, que são perturbações da razão. O ideal ético é a apatia que se defina como ausência de paixão e permite a liberdade, mesmo sendo escravo.
Paganismo
A precisão verbal e o recurso à mitologia associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou á tranquila resignação ao destino são marcas da classicismo erudito de Reis. Poeta clássico, da serenidade, Ricardo Reis privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica (hipérbatos), favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas.
Álvaro de Campos:
Álvaro de Campos surge quando “sente um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra “no extremo oposto, inteiramente oposto a Ricardo Reis”.
Para Campos a sensação é tudo. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O Eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalizarão das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Álvaro de Campo é o mais moderno dos heterónimos, descreve-o como engenheiro naval e afirma que escreve em seu nome quando sente “um súbito impulso de escrever”. Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
O sensacionismo de Campos começa com a premissa de que a única realidade é a sensação. Mas a nova tecnologia na fábrica e nas ruas da metrópole moderna provoca-lhe a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável.
Ao tentar a totalização de todas as possibilidades sensoriais e afectivas da humanidade, em todo o espaço, tempo ou circunstâncias, num mesmo processo psíquico individual, o sensacionismo faz o mesmo que o Unanimismo francês (movimento poético que em reacção contra o individualismo e as estéticas do descontínuo, procura criar laços entre os grupos humanos, interpretando a sua alma e a sua vida, acreditando na possibilidade de uma alma “unanime”, na solidariedade e na importância da colectividade para fazer face ás situações reais e ameaçadoras da vida moderna).
A obra de Álvaro de Campos passa por três fases:
- a decadentista – que exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (Opiário); O Decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de fuga á monotonia.
- a futurista e sensacionista – nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da maquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da maquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”
- a intimista – que, perante a incapacidade da realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, / Cansaço..”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado.
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