sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Romantismo

• Introdução
O Romantismo foi um movimento cultural que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América a partir da segunda metade do século XVIII. O seu nome deriva de "romance" (história de aventuras medievais), que tiveram uma grande divulgação no final de setecentos, respondendo ao crescente interesse pelo passado gótico e à nostalgia da Idade Média. Muito variada nas suas manifestações, esta corrente sustentava-se filosoficamente em três pilares: o individualismo, o subjectivismo e a intensidade.
Contra a ordem e a rigidez intelectual clássica, os artistas românticos imprimiram maior importância à imaginação, à originalidade e à expressão individual, através das quais poderiam alcançar o sublime e o genial.

• Arquitectura
O Romantismo, ligado à recuperação de formas artísticas medievais, acompanhada pelo gosto pelo exótico contido nas culturas orientais, favoreceu a revivência e a mistura de vários estilos, como o românico, o gótico, o bizantino, o chinês ou o árabe. Foi na Inglaterra que se verificaram as primeiras manifestações da arquitectura romântica.
Paralelamente ao revivalismo estilístico, a arquitectura do século XIX apresentou um outro vasto campo de desenvolvimento, proporcionado pelos novos materiais de construção surgidos com a industrialização, como o ferro e o vidro. Embora a Inglaterra tenha sido pioneira na utilização do ferro para a construção de estruturas arquitectónicas, foi em França que esta tecnologia encontrou uma mais significativa expressão estética.•

• Artes Plásticas e Decorativa
Contrariamente à arquitectura, que conheceu o seu apogeu em Inglaterra, a pintura romântica encontrou um meio intelectual e criativo mais favorável no continente europeu, principalmente em Espanha, França e na Alemanha.
Francisco Goya (1746-1828), pintor espanhol contemporâneo de David, foi grandemente influenciado por Mengs e por Tiepolo mas também por autores do período barroco como Velázquez e Rembrandt. As suas obras mais famosas, como o quadro Três de Maio de 1808, foram realizadas entre 1810 e 1815, os anos da ocupação francesa, e caracterizam-se pelo sentido trágico dos temas, pelo colorido agresssivo e uma luminosidade dramática.
O francês Eugéne Delacroix (1798-1863), marcado pela cultura romântica inglesa, pinta grandes quadros épicos como a Liberdade Guiando o Povo (1830-1831) e cenas orientalizantes, como Os massacres de Scio, para os quais a viagem que realiza a Marrocos fornece informações preciosas.
Na Alemanha, a pintura romântica atinge o seu apogeu com as representações visionárias e espiritualizadas da natureza, realizadas pelos alemães Caspar David Friedrich (1774-1840) e Philipp Otto Runge (1774-1840).
Em Portugal, salientaram-se os pintores Tomás da Anunciação (1818-1879), o paisagista Cristino da Silva (1829-1877) e Francisco Augusto Metrass (1825-1861), estudante em Roma com o grupo dos Nazarenos e autor de quadros historicistas e naturalistas, de entre os quais se destaca a pintura "Só Deus".
A escultura romântica, desenvolvida em paralelo com a escultura neoclássica, não conheceu qualidade estética nem projecção idênticas à da pintura da mesma época. Protagonizada pelo francês Antoine Louis Barye (1796-1875), que transporta para a estatuária o espírito romântico do pintor Delacroix, de quem era amigo, realiza peças baseadas no estudo naturalístico e fortemente expressivo de animais selvagens, como por exemplo, a escultura O Jaguar devorando uma lebre.
No contexto português destacam-se os trabalhos de Soares dos Reis (1847-1889), como a estátua "Desterrado" e de Simões de Almeida (1844-1926), autor do grupo escultórico Génio da Liberdade, incluído no monumento do Marquês de Pombal em Lisboa.
Desaparecendo durante a segunda metade do século XIX, o romantismo inspirou alguns movimentos artísticos, como o Simbolismo e o Expressionismo

• Literatura

O Romantismo entra na Literatura portuguesa com a publicação do poema D. Branca (1826) de Almeida Garrett. O ambiente político (lutas entre liberais e absolutistas), o exílio deste, o seu temperamento, a época em que viveu, transforma o árcade que durante muito tempo se afirmou em Catão, na Lírica de João Mínimo, no Retrato de Vénus, quanto ao seu conteúdo, e nos poemas Camões e D. Branca, na linguagem, no grande romântico das Folhas Caídas e no grande pioneiro de uma linguagem coloquial, moderna, de Viagens na Minha Terra. Será, contudo, Alexandre Herculano o grande intérprete do Romantismo com a poesia de cor histórica marcadamente actual da Harpa do Crente e com o romance histórico (O Bobo, O Monge de Cister) decorrente na Idade Média, que constituirá o zénite do movimento literário. Porque mais tradicionalista, a Inglaterra está na sua origem; depois, irrompe na Alemanha com a peça dramática Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), um grito de revolta contra o imperialismo napoleónico e uma afirmação de nacionalismo e, como tal, o medievalismo, o regresso ao passado, o subjectivismo e, na sua sequência, o sentimentalismo. O subjectivismo dos filósofos alemães Kant, Fichte, Schelling e Schlegel conduz a um novo antropocentrismo. Por outro lado, o sentimentalismo afirma-se com o domínio do coração nos românticos sobre o da razão nos clássicos. Da Inglaterra vem-lhe o gosto de uma paisagem solitária, luarenta, saudosa, com as ruínas musgosas e evocadoras. As Estações de Thompson (1726-30) abrem caminho para a descrição da natureza saudosista, solitária, povoada de ruínas e cemitérios. Do desencontro entre as formas espartilhadas do Classicismo e a ânsia de evasão dos românticos afirma-se o sentido da liberdade na Arte e, daí, o individualismo com Victor Hugo, «escuta-te a ti próprio». O artista deixa de ser o imitador; pondo a sua imaginação a trabalhar, cria uma sub-realidade e transmite o seu sentir e pensar. De imitador passa a criador. Albert Thibaudet considera o Romantismo como «a grande revolução literária moderna». Embora a França só a partir de 1830 se abrisse definitivamente ao Romantismo, não há dúvida de que Rousseau pode considerar-se o seu primeiro ensaio na escola. Depois temos Chateaubriand com Atala e o Génio do Cristianismo, Lamartine, Musset, Victor Hugo, que escreve o prefácio do drama Cromwell a proclamar a liberdade na arte, em guerra aberta com as normas do Classicismo. Na Alemanha, Herder, Goethe, Hegel, Schiller e Schlegel são os padrões mais sugestivos. Mas já os irmãos Grimm tinham explorado a cultura popular: Wieland, no seu Oberon, põe o maravilhoso popular no lugar da mitologia e Klopstock, em Messíada, também a rejeita.
A liberdade na arte determina a criação de novas formas – o drama, o poema narrativo (Camões), o romance histórico; na poesia aparecem variadíssimas estruturas estróficas que acompanham o pensamento com maleabilidade; a linguagem, com mais poder de transmissão, enriquece com uma simbologia nova e com um vocabulário mais sugestivo e mais actual; afirma-se o gosto pelo exotismo. Ao equilíbrio do Classicismo opõe-se, agora, a ansiedade da descoberta metafísica, quer se perca no domínio horizontal das afeições humanas (Garrett), quer se dirija verticalmente na busca de Deus (Herculano, Soares de Passos, Antero de Quental). Ao Romantismo interessam os temas grandiosos. Mas, por vezes, essa ânsia de infinito debate-se dolorosamente, dramaticamente, com as suas limitações humanas, o que dá lugar ao desânimo. A mesma ânsia de liberdade artística projecta-se na busca ansiosa de um mundo melhor, um mundo onde os homens sintam o domínio da justiça e se encontrem como irmãos. Todas as circunstâncias que propiciaram a nova corrente arrastaram consigo um acentuado pendor para a insegurança, para a inquietação, para o desajustamento que os mergulha, ora num estado de melancolia. De fundo de cenário que era, no Classicismo, a natureza, nos românticos, participa, determina estados de alma.
Cátia Medeiros

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